Mesmo Assim Eu Me Reergo
“Você pode me menosprezar na história,
Com suas mentiras distorcidas e amargas,
Você pode me pisotear nessa lama,
Mas mesmo assim, como poeira, eu me reerguerei.
A minha impertinência lhe incomoda?
Por que você está perturbado em melancolia?
Porque eu ando como se tivesse poços de óleo
Jorrando na minha sala de estar.
Bem como luas e como sóis,
Com a certeza das marés,
Bem como esperanças brotando alto,
Mesmo assim eu me reerguerei.
Você queria me ver quebrada?
Cabeça inclinada e olhos para baixo?
Ombros caindo como lágrimas.
Fraquejando pelos gritos do meu âmago.
A minha arrogância lhe ofende?
Não leve isso tão a sério
Porque eu rio como se tivesse minas de ouro
Sendo escavadas no meu quintal.
Você pode atirar em mim com as suas palavras,
Você pode me cortar com os seus olhos,
Você pode me matar com o seu ódio,
Mas mesmo assim, como o ar, eu me reerguerei.
A minha sensualidade lhe ofende?
É realmente uma surpresa
Eu dançar como se tivesse diamantes
Onde minhas coxas se encontram?
Das tocas da vergonha da história
Eu me reergo
Saindo de um passado enraizado na dor
Eu me reergo
Eu sou um oceano negro, borbulhante e vasto,
Vertendo e me expandindo eu agüento a maré.
Deixando para trás noites de terror e medo
Eu me reergo
Rumo a um amanhecer que é surpreendemente claro
Eu me reergo
Trazendo os presentes que meus ancestrais deram,
Eu sou o sonho e a esperança do escravo.
Eu me reergo
Eu me reergo
Eu me reergo.”
Tradução de Brenda Nepomuceno
AINDA ASSIM, EU ME LEVANTO
Você pode me riscar da História
Com mentiras lançadas ao ar.
Pode me jogar contra o chão de terra,
Mas ainda assim, como a poeira, eu vou me levantar.
Minha presença o incomoda?
Por que meu brilho o intimida?
Porque eu caminho como quem possui
Riquezas dignas do grego Midas.
Como a lua e como o sol no céu,
Com a certeza da onda no mar,
Como a esperança emergindo na desgraça,
Assim eu vou me levantar.
Você não queria me ver quebrada?
Cabeça curvada e olhos para o chão?
Ombros caídos como as lágrimas,
Minh’alma enfraquecida pela solidão?
Meu orgulho o ofende?
Tenho certeza que sim
Porque eu rio como quem possui
Ouros escondidos em mim.
Pode me atirar palavras afiadas,
Dilacerar-me com seu olhar,
Você pode me matar em nome do ódio,
Mas ainda assim, como o ar, eu vou me levantar.
Minha sensualidade incomoda?
Será que você se pergunta
Porquê eu danço como se tivesse
Um diamante onde as coxas se juntam?
Da favela, da humilhação imposta pela cor
Eu me levanto
De um passado enraizado na dor
Eu me levanto
Sou um oceano negro, profundo na fé,
Crescendo e expandindo-se como a maré.
Deixando para trás noites de terror e atrocidade
Eu me levanto
Em direção a um novo dia de intensa claridade
Eu me levanto
Trazendo comigo o dom de meus antepassados,
Eu carrego o sonho e a esperança do homem escravizado.
E assim, eu me levanto
Eu me levanto
Eu me levanto.
Tradução de Mauro Catopodis
O trabalhador negro Will Brown linchado, mutilado e queimado por supremacistas brancos em Omaha, EUA, em 1919.
Fonte: http://isqineeha.tumblr.com/post/41259790066/lynching-mutilation-and-burning-of-african
[…] Em português, até onde tenho notícia (e, se eu estiver equivocado, que me corrijam por favor), temos tradução de duas de suas autobiografias, Eu sei por que o pássaro canta na gaiola (José Olympio, 1969), e Carta à minha filha (Nova Fronteira, 2008), mas infelizmente, ao que tudo indica, a sua obra em verso, pelo menos no condizente a publicação em livros, permanece inédita em nossa língua. Há algumas traduções em blogues, no entanto, como a do poema “Still I Rise” (clique aqui). […]
[…] (Tradução de Brenda Nepomuceno) […]